Trataremos de um sonho particular que tive em relação a meu filho que, ao dormir no dia 11 de outubro de 2012, que antecedia ao desencarne dele, orei e pedi muito ao Senhor da Vida que ele recebesse a minha vibração de amor, ternura e carinho e, então adormeci…
Abordaremos nesse trabalho sobre as formações oníricas (sonhos) como modo de pensar a partir de um estado de consciência diferente daquele com o qual estamos acostumados. Esse modo favorece a inspiração, pois várias descobertas científicas, criações artísticas e soluções de problemas do cotidiano já surgiram enquanto as pessoas dormiam.
Ter acesso a seus próprios recursos naturais nos permitem continuar focados nas questões que nos afligem quando acordados. Além disso, durante décadas, os cientistas tentaram entender as características diversas dos sonhos. A pesquisa parece indicar que se trata simplesmente de pensamentos, em um estado bioquímico diferente do estado de vigília, mas o alcance dos sonhos parecem desafiar a natureza humana.
Os requisitos psicológicos necessários para sonhar alteram o funcionamento neurológico, por isso a experiência onírica pode parecer estranha ou sem sentido já que a química do cérebro adormecido afeta a forma como percebemos nossos próprios pensamentos. Eis uma importância fundamental no caminho do autoconhecimento.
Sonho de mãe e filho: 4 anos de saudade
Filho amado. Hoje, faz 4 anos que não o vejo, não tenho seu abraço carinhoso, morno, e o seu olhar sorridente.
Hoje, você faria 57 anos aqui conosco, mas sinto a sua presença viva em meu coração.
Hoje, estamos em planos diferentes. Mas sinto um infinito amor que nos une através das lindas lembranças, recordações e das grandes aventuras que partilhamos.
Hoje, quando a saudade se faz mais presente nos encontramos nos SONHOS. É quando conversamos muito, nos acolhemos um ao outro e temos a certeza de que a vida continua de forma diferente…
Eis a descrição do sonho:
Ah! Ouço você dizer: “A fila anda! Você precisa deixar de ser cabeça dura e me ouvir! Não tem mais idade, me ouça!” E sorrimos na busca de um denominador comum, e tudo se resolve em um outro tempo.
Eu aproveito deste novo tempo de estarmos juntos e digo que ouvi de um dos seus melhores amigos que você me chamava de turca de uma forma amorosa, respeitosa, honrando suas origens libanesas. E entre sorriso e surpresa falo com você o que também fiquei sabendo de um outro amigo seu: “Tenho certeza que minha mãe está sempre ao meu lado para me ouvir na hora que preciso. Verdade!” E que sua aprovação na magistratura estava sinalizada com a minha presença em sua vida, ao seu lado, sempre que você precisasse e frente à todas as dificuldades.
E você caminha mostrando esse lugar onde é marcado pelos seus atos e ações, pela presença de suas atitudes na vida das pessoas que, dentro do anonimato, exercia o amor incondicional que tão bem você soube espalhar a todos quando aqui você esteve!
Ah! E você diz: “É assim, amada mãe, que a vida se consolida neste lugar real e eterno. Sei que um dia nos encontraremos e você será minha vizinha.” risos… E, neste momento, ele me leva para conhecer a casa onde ele mora hoje. Linda, luminosa, plena de amor e paz! Suas paredes são erguidas pela suas harmoniosas ações; as portas, pela equidade em suas atitudes e comportamentos, o teto que deixa passar por uma fresta o sol que ilumina, mostrando o coração generoso, amigo e leal. E, ao olharmos para o chão, caminhamos sobre uma imensa energia de um oceano de probabilidades sustentado pela congruência e plenitude de toda a caminhada por onde ele passou, onde ele foi verdadeiro com o que pensou, sentiu e realizou.
Neste momento, ele me aponta para um terreno vizinho à sua casa e diz: “Amada mãe, ali será construída a sua casa. Todas as nossas ações, atitudes, pensamentos e sentimentos constituem os alicerces da nossa morada eterna! Estou aqui sempre, atento ao material que você envia para a construção da sua casa. Como engenheiro, traço a planta baixa e como juiz, com tranquilidade e convicção, sei que será dada a sentença máxima de uma vida plena de amor e luz, pois você e papai foram a massa que me auxiliaram a concretar os alicerces na construção da minha casa, onde eu pude desenvolver o acabamento primoroso e sutil que hoje desfruto no mundo maior.” E então nos abraçamos, amorosamente, como sempre!
Neste momento, senti que era preciso despertarmos para as nossas realidades e nos despedirmos. Foi então que o convidei para prosseguirmos nos encontrando nos SONHOS e continuarmos a somar conhecimentos, dividir a compaixão, multiplicarmos os ganhos e diminuirmos as diferenças e a distância entre nós! E assim, agradecemos ao Senhor da Vida por esse nosso reencontro amoroso, profundo e eterno.
Nos abraçamos e senti o abraço mormo e o beijinho na cabeça que sempre recebia no nosso convívio, junto à certeza que é um até breve!
O sonho se realizou me despertando para um novo amanhecer. Eu daqui e ele, lá, na espiritualidade, mas guardado amorosamente dentro do meu coração pelo amor que sempre existiu.
E, ao abrir os meus olhos, me senti abraçada a esse menino de 4 aninhos que, afinal, merece todo o meu cuidado e amor.
Regina Nohra12/10/2021
Diz um livro de sabedoria do Egito antigo que o deus criou os sonhos para indicar o caminho aos homens, quando esses não podem ver o futuro. De acordo com Chevalier (2016), o sonhador está no âmago de seu sonho e toda a reunião de símbolos, de todas as épocas e povos, pode servir à análise dos sonhos. Segundo Chevalier, o sonho anima e combina imagens carregadas de afetividade e, portanto, sua linguagem é exatamente a dos símbolos. Mas a arte de interpretá-los não depende de regras ou de codificar mecanicamente. É necessária ao mesmo tempo uma compreensão íntima e ampla do meio psíquico, pessoal e social, além dos símbolos.
Segundo Jung (Chevalier, 2016, p. 848), é preciso não esquecer que se sonha em primeiro lugar, e quase exclusivamente, consigo mesmo e através de si mesmo. Ou seja, cada elemento do sonho é como que um símbolo do próprio sujeito. A interpretação do sonho, como a decriptação do símbolo, não são apenas respostas a uma curiosidade do espírito. Elevam a um nível superior as relações entre o consciente e o inconsciente e aperfeiçoam suas redes de comunicação. Logo, essa é uma das vias de integração da personalidade.
O homem mais bem esclarecido e equilibrado tende a substituir o homem despedaçado entre seus desejos, suas aspirações e suas dúvidas, e que não se compreende a si próprio ou aos acontecimentos da vida.
O professor C.A.Meier, que Roland Cahen cita em Chevalier (p. 850) diz que a síntese da atividade psíquica consciente e da atividade psíquica inconsciente constitui a própria essência do trabalho mental criador.
Nos processos de luto, o ente querido pode aparecer como se estivesse vivo e tende a decrescer gradualmente na frequência dos sonhos (e seu significado simbólico muitas vezes aumentando), à medida que o processo de luto caminha para uma conclusão saudável, via de regra de seis a oito meses após a morte. Porém, de acordo com Hall (2007), nos casos de luto prolongado e patológico, quando o indivíduo reluta em aceitar a partida da pessoa amada, as imagens do sonho mostram amiúde o falecido numa luz negativa, ou como se estivesse tentando abandonar o ego onírico.
As pessoas normalmente concentram-se nas imagens dos sonhos e buscam o sentido nelas, mas é também importante – se não mais importante – estar consciente dos sentimentos trazidos à tona pelos sonhos (Signell, 1998, p. 38). Nesse caso em questão, o sonho trouxe um sentimento compensatório de bem-estar ao permitir que sua presença possa ser garantida em algum instante novamente, assim como o retorno à sua proximidade.
Na psicologia junguiana, o sonho é considerado um processo psíquico natural e regulador, análogo aos mecanismos compensatórios do funcionamento corporal.
Mesmo quando os sonhos não são interpretados, eles parecem, às vezes, ter um profundo efeito sobre a consciência vígil e mesmo quando não recordados, os sonhos são parte vital da vida total da psique. Logo, na concepção junguiana, os sonhos estão continuamente funcionando para compensar e complementar a visão vígil que o ego tem da realidade.
Segundo Hall (2007), a interpretação de um sonho permite que se preste um pouco de atenção consciente na direção em que o processo de individuação já está se desenrolando, embora inconscientemente. Um benefício adicional decorrente da interpretação dos sonhos é o fato de o ego reter na memória consciente um resíduo do sonho que permite à pessoa identificar motivos semelhantes na vida cotidiana e assumir uma atitude ou ação apropriadas, resultando em menor necessidade de compensação inconsciente dessa área conflituosa específica.
Contudo, Carl Gustav Jung foi um pioneiro que pesquisou numa impressionante profusão de fontes (mitologia, religiões, alquimia, textos esotéricos, seus próprios sonhos, e sonhos dos clientes que atendeu, vindos de todo o mundo) assim, em Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung conta que os espíritos podem ser consciências autônomas que pararam no tempo após a morte do corpo.
O psicólogo canadense Allen Maffit assume a posição de que os sonhos são a base biológica da espiritualidade e da religião porque são o único lugar em que se pode encontrar os mortos. Para ele, o cérebro não tem receptores internos, então deve confiar nos processos dos sonhos.
Marie-Louise Von Franz descobriu que a morte assume muitas formas em sonhos, entre elas uma árvore retorcida prestes a tombar, uma passagem em meio ao fogo e à agua, encontros com mensageiros como anjos etc. Para ela, os sonhos fornecem frequentes indicações de que a morte não é o fim da existência.
Os sonhos também podem ajudar no processo de chorar a morte de uma pessoa amada. Margarete Geme tem observado um aumento nas aparições de pessoas falecidas em sonhos do enlutado imediatamente após o evento da morte. Depois de um período de tempo seu aparecimento diminui e o aparecimento de membros vivos da família aumentou. Para Geme, esta mudança indicou um processo de luto bem-sucedido.
Contudo, de acordo com doutrinas espiritualistas, nos sonhos espirituais há o contato do espírito desdobrado do corpo físico com outros espíritos encarnados ou desencarnados. As pessoas relatam conversas com parentes ou amigos desencarnados, recados ou pedidos de pessoas que já partiram para a dimensão espiritual.
O que de certo sabemos é que não podemos ficar sem sonhar. Os sonhos tem uma importância de elaboração pela psique do que é vivido, como também nas situações de processamento de memórias. “Os sonhos comportam-se como compensação da consciência em determinado momento” (Jung). Logo, o que o sonho em questão tem a dizer para o indivíduo do ponto de vista da sua consciência em vigília? O sonho pode manifestar o que está faltando para essa condição de vigília. A nossa natureza, o nosso deus interior (Self), cuida de nós para que continuemos evoluindo.
E assim, “encontrar um terreno para construir uma casa” é simbólico, e como a própria etimologia da palavra diz, significa lançar reunindo (Sym-ballein). É preciso um símbolo que possa unir a uma realidade perdida, e assim procurar crescer e enfrentar as adversidades para não ficar no diabólico (diábolos, aquele que separa) a fim de equilibrar para a conquista do que é exigido no momento em função da realização da jornada de vida.
A consciência sabe que a casa interna precisa de um lugar de sustentação. Essa personalidade que está vivendo uma estrutura que foi abalada, precisa ser compreendida e continuar. Não temos como saber com certeza qual é a interpretação correta de um sonho, mas sabemos que o sonho significa sempre alguma coisa e o sonhador é quem vai dar sentido a ele.
Conclusão
A vida onírica é geralmente tão esquecida da maioria das pessoas que trazê-la para a vida atual vai dar sentido para muitas coisas. Depois de analisarmos os sonhos como processos psíquicos vitais, a única ressalva a dizer é que essa matriz parece orientar o ego consciente para uma atitude mais adaptada e madura frente à vida e aos seus acontecimentos.
O sonho me reitera a certeza de que a nossa vida no corpo físico não é única ou especial, e que existem outras manifestações da vida, comprovando a imortalidade do Espírito.
Em todas as religiões e em todas as civilizações antigas, os sonhos têm sido uma importante via de ligação entre o mundo material e o mundo espiritual. O sonho pode ser considerado “a via real para o inconsciente” a caminho da individuação!
Os sonhos não nos protegem das vicissitudes, mas funcionam como uma linha mestra para lidarmos com elas e para encontrarmos um sentido, cumprirmos nosso destino e realizar o potencial da vida que há em nós. Logo, ele representa as várias dimensões do ser.
Em todas as religiões e em todas as civilizações antigas, os sonhos têm sido uma importante via de ligação entre o mundo material e o mundo espiritual. O sonho pode ser considerado “a via real para o inconsciente” a caminho da individuação.
Referências:
CHEVALIER, Jean. Dicionário de símbolos. 29ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.
HALL, James A. Jung e a Interpretação dos Sonhos: Manual de Teoria e Prática. São Paulo: Cutrix, 2007.
KRIPPNER, Stanley. Sonhos Exóticos. São Paulo: Summus editorial, 1998. SIGNELL, Karen A. A Sabedoria dos Sonhos – para desvendar o inconsciente feminino. São Paulo: Ágora, 1998.
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