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O que é Estoicismo?

Atualizado: 19 de fev.

Enfatizando virtudes e sua relevância filosófica:

Na antiguidade, o estoicismo se firmou como uma das corretes filosóficas mais influentes do helenismo. Essa escola de pensamento originou-se na cidade grega de Atenas próximo ao ano 300 a.C., embora seu fundador, Zenão, tenha sido um estrangeiro natural de Cítio (atual Lárnaca, na ilha de Chipre). As virtudes têm um peso norteador para os seguidores da doutrina, suas ações comprovam e evidenciam. O nome dessa escola originou-se do local em que esse pensador se reunia com seus discípulos, um pátio do espaço público destinado à discussão política em Atenas — a ágora. Ela nos deixa uma enorme relevância literária, ferramentas de pesquisa para o autoconhecimento e autodomínio do self. Para os estoicos era irrelevante a origem do indivíduo, apenas seus pensamentos e virtudes.

Princípios x Virtudes x Estoicismo x Atualidade:

Os princípios Estoicos se fazem presentes na vida cotidiana sem que a maioria das pessoas se dê conta que foram instituídos há 2300 anos. Uma citação, uma postura, um pensamento, por serem atemporais, são tão atuais.

Sendo assim, na visão do estoicismo (para o homem) a verdadeira felicidade só seria alcançada através de sua virtude, ou seja, os seus conhecimentos e valores, abrindo mão completamente do “vício”, considerado pelos estoicos um mal absoluto.

Que caminho percorrer para a verdadeira felicidade? Como encontrar propósito na vida? Como lidar com nossas emoções superando perdas profundas? A filosofia dos estoicos pode nos dar as respostas para essas perguntas. A popularização do Estoicismo se dá devido a forma como conduziram a implementação desta filosofia, em escolas ao ar livre, onde participação de todos era valorizada.

Cabe aqui uma reflexão, um paralelo, já que a vida contemporânea anda malcriada e nos assustando com distorções de princípios e valores que nem de longe nos lembra os valores estoicos. Qual é a dificuldade contemporânea em se deixar orientar por valores simples, reais, orgânicos? Como absorver culturas que se reforçam na superfície, na futilidade das emoções fugazes?

Desmistificar a formalidade da filosofia adequando à modernidade do que é essencial e completo, pode apontar um caminho. Sabemos que muitas outras escolas filosóficas inexistem e apenas se mantém como referência de pesquisa. Então qual é a razão do Estoicismo ainda hoje ter tamanha influência e seguidores? Pelo simples fato de se apoiar na praticidade e na razão.

Os seguidores da doutrina do Estoicismo são norteados por esses princípios filosóficos:

                    A virtude é o único bem e caminho para a felicidade:

Virtude: sinônimo de: Austeridade, Autocontrole, Autodomínio, Compostura, Discrição. Nos dias atuais nos comportamos roboticamente perante situações onde temos dificuldades na escolha entre o que nos faz bem em detrimento do que não agrega. Para os estoicos, elas (as virtudes) são os valores essenciais na filosofia, a âncora que direciona as ações. “Se, em algum momento de sua vida”, Marco Aurélio escreveu, “tu deves encontrar algo melhor do que justiça, verdade, autocontrole, coragem – deve ser algo realmente extraordinário”. Isso foi há quase vinte séculos. As descobertas que extraordinariamente surgiram desde então, transformando nosso senso de prioridades– automóveis, internet, avanço da Medicina, será que são melhores do que ser:

  • Corajoso?

  • Do que ter moderação e sobriedade?

  • Agir de forma prudente e assumir a responsabilidade sobre os seus atos?

  • Entender que o Prazer pode se tornar um inimigo sábio?

  • Os sentimentos externos tornam o ser humano um ser irracional e não imparcial?

  • O entendimento e a verdade?

  • Priorizar o conhecimento e o agir, desde que seja a razão sua norteadora?

  • O indivíduo precisa conviver e aceitar a sua vida da forma que ela é?

  • Aceitar que na vida o que acontece ao nosso entorno obedece a lei de causa e efeito?

Procurando responder à essas perguntas podemos nos surpreender com o que encontraremos como norteadores de vida, intenções escondidas e prioridades reprimidas.

Será que conseguiremos encontrar algo melhor em algum momento de nossa vida? Não creio! Mas, creio no desenvolvimento humano, creio na sabedoria interior que nos conduz e eleva. Os princípios, ensinamentos, reflexões, ponderações e pensamentos que apoiam nossas atitudes e vêm de séculos atrás, nos mostram ser mais atuais do que imaginamos.

A partir desses princípios é possível entender pessoa estoica sendo aquela que não se deixa levar por crenças, paixões e sentimentos que são capazes de tirar a racionalidade de uma pessoa na hora de agir, como desejos, dor, medo e prazer. Isso porque essas circunstâncias são infundadas e irracionais.

Nossos enfrentamentos e confrontos são a oportunidade de respondermos com essas 4 virtudes:

Coragem:

Se entendemos que a vida pode se assemelhar a um romance sombrio, que mutila o sentido e a intimidade com o estar vivo, entendemos também que de nós será cobrada a coragem para enfrentarmos o bem viver. Os estoicos podem ter direcionado isso de maneira um pouco diferente. Sêneca diria que ele se compadeceu de quem realmente nunca experimentaram o infortúnio.

 “Tu passaste a vida sem um oponente”, disse ele, “ninguém pode saber do que tu és capaz, nem mesmo tu. ”

Somos rotulados por categorias e quando não correspondemos aos rótulos carimbados sofremos. As situações e seu grau de complexidade nos afeta de formas diferentes e na maioria das situações respondemos com coragem, ou pelo menos é o que se espera de nós. Podemos pensar serem incômodas, trágicas, ou como perguntas transformadoras e reveladoras de quem somos nós.   As respostas serão a bússola do caminho a seguir.

Temperança:

Não podemos confundir coragem com bravura, pois a bravura pode se outorgar imprudência. A coragem se faz necessária para atitudes onde não arrisque a si e aos outros, colocando em perigo alguém ou alguma situação.

Neste momento Aristóteles se faz presente na metáfora famosa de uma “média de ouro” ou doutrina do meio termo, usando coragem como principal exemplo, sendo duas extremidades opostas onde em uma, havia o excesso de coragem que ele sabiamente define como imprudência e no outro cabia a covardia, que para ele se configura como falta de coragem.

Em que momento da vida nos perguntamos ou refletimos na falta ou excesso de coragem? Podemos pontuar precisamente onde ela se excedeu e onde se ausentou?

E se para nós a nossa coragem estiver definida de uma maneira e para outros se configurar imprudência? O que era necessário, o que solicitávamos então era uma média de ouro. A quantidade certa.

Não fazer nada em excesso é a premissa da temperança. Assertividade, na medida certa, sem excessos. Porque “somos o que fazemos repetidamente”, diz Aristóteles, “portanto, a excelência não é um ato, mas um hábito”.

 Epicteto diria mais tarde, “a capacidade é confirmada e cresce em suas ações correspondentes, andando, andando e correndo, correndo; portanto, se tu quiserdes fazer alguma coisa, cria o hábito”.  

O querer anuncia uma intenção e com foco podemos ser felizes, bem-sucedidos, realizados, podemos sem esforço exagerado ou magia, fazer acontecer.

Justiça:

Não enfatizar a coragem procurando o equilíbrio nas atitudes, sabemos ser o pilar estrutural virtuoso desta filosofia, mas, nenhuma destas virtudes se sobrepõe à Justiça, ou seja, fazer a coisa certa!

 Parafraseando Marco Aurélio: ” A justiça é a fonte de todas as outras virtudes”. Os estoicos, ao longo da história, têm pressionado e defendido a justiça, com intuito de fazer grandes coisas e defender as pessoas e ideias que amavam.

  • “Catão deu a vida tentando restaurar a República Romana”.

  • “Trásea e Agripino resistiram à tirania de Nero”.

  • “George Washington e Thomas Jefferson formaram uma nova nação – uma que procuraria, ainda que imperfeitamente, lutar pela democracia e pela justiça – amplamente inspirada na filosofia de Catão e dos outros estoicos.”

  • “Beatrice Webb, que ajudou a fundar a London School of Economics e que primeiro conceituou a ideia de negociação coletiva, releu regularmente Marco Aurélio”.

É sabido que vários outros indivíduos ligados à política recorreram ao estoicismo quando não encontravam possibilidades de luta por ideais importantes, sempre acreditando verdadeiramente que se pode fazer a diferença (pensamento estoico).

Em pleno 2022, onde o mais é sempre mais e as virtudes estão conturbadas, Justiça é um tema duvidoso de se abordar perante as inúmeras faces do indivíduo e negação do fazer a coisa certa; mas, ainda creio na sensatez humana e no poder transformador da coletividade para o bem comum.

Na escala evolutiva subimos degraus em momentos diferenciados e sem julgamentos ou críticas, exercer a compaixão pelos que ainda não se conscientizaram da necessidade do aprendizado, do conhecimento, da coletividade é uma virtude.

E por fim, não menos importante, a Sabedoria. O que seria correto definir como sabedoria? Como a antiguidade se emparelha aos dias atuais? Será que conseguiremos nos equiparar a sabedoria da antiguidade? Como lidar com todo conhecimento armazenado na literatura?

Podemos nós, simples mortais, configurar o conhecimento ancestral com propriedade?

Sabedoria:

Sabedoria, sapiência ou sagacidade é a condição de quem tem conhecimento, erudição O equivalente em grego “sofia” é o termo que equivale ao saber; O termo encontra definições distintas conforme a ótica filosófica, teológica ou psicológica.

Qualidade, característica de quem é sábio ou do que é sábio. Grande instrução; ciência, erudição, saber. Essas definições provêm do dicionário convencional, significando sinônimos.

Mas para você o que significa ser sábio? Onde você acredita que usou de sua sabedoria? Com que objetivo?

 Zenão falava sempre que o homem recebeu dois ouvidos e uma boca para que desenvolvesse o hábito de ouvir mais do que falar. E o bônus de dois olhos, para nos policiarmos a observar, ter atenção para diminuir o que falamos. Os estoicos sempre valorizaram a sabedoria, o conhecimento.

Nos dias atuais, selecionar o que ouvimos, o que nos chega de informação é essencial, como no mundo antigo, pois existem inúmeras informações para serem acolhidas por nós, mas, confiável nem todas.

Você não pode aprender o que pensa que já conhece, disse Epicteto.

Saber procurar a quem entregaremos a confiança de nos ensinar se faz importantíssimo para a saúde do nosso aprendizado. A leitura tem o poder de nos transportar e apreender ludicamente as informações obtidas.

O objetivo não é apenas adquirir informações, mas a informação correta. São as lições encontradas em Meditações e também nos escritos de Epicteto. São os principais fatos, destacando-se do ruído externo, que você precisa absorver.

Podemos honrar o aprendizado (honrar a sabedoria estoica) que está disponível, há milhares de anos. Anos esses que nos traz uma visão exuberante e certifica que podemos aprender o que quisermos, tudo que pudermos alcançar, toda sabedoria que vc precisar para fazer a diferença.

Regina Nohra


Fontes:

SÊNECA. Sobre a ira / Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, introdução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics; Companhia das Letras, 2014.

|2|SÊNECA. Sobre a brevidade da vida / Sobre a firmeza do sábio. Tradução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics; Companhia das Letras, 2017.

|3| EPICTETO. Encheiridion de Epicteto. Tradução do grego, introdução e comentário de Aldo Dinucci e Alfredo Julien. São Paulo: Annablume; Imprensa da Universidade de Coimbra. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10316.2/32825>. Acesso em 28 out. 2019.

|4| MARCO AURÉLIO. Meditações. Introdução, tradução e notas de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1989.

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